PlagiAção

Existe um detalhe crucial na questão do plágio: assim que uma pessoa publica algo, automaticamente deixa de ser dono. Aquilo passa a ser parte do que poderemos chamar de Patrimônio Cultural da Multidão (odeio coisas como, povo, humanidade ou massas). Se pertence a todos, não reconheço o plágio como um roubo, apenas como uma apropriação do que é coletivo. Se eu aceitar a venda de cópias de meu trabalho, se eu obter lucros diante da reprodução de cópias e mais cópias, podendo chegar a milhões de cópias, como em muito casos ocorre, que moral terei eu pra dizer que sou contra a propriedade privada? E eu sou contra a propriedade privada sim e sou contra a propriedade intelectual também. Mas meu Deus, Timóteo do céu, como os caras vão sobreviver? Pois aí é que está o cerne da questão, aí já entramos na questão da maneira como vejo a arte. É uma merda que arte seja uma especialização, que seja coisa de artista. Roubaram a arte de nós. Com o tempo aprisionaram-na num modelo funcional que a faz ser privilégio de pouco$. Um artista até pode viver de sua arte, é claro, um artista pode até querer ficar rico e famoso, também é óbvio; só não venha querer me convencer a seguir essas regras odiosas nas quais acredita e as quais segue. Eu não reconheço essas regras e como JÁ SOU livre, posso seguir as minhas. Aprofundando ainda mais a questão (essa é foda) eu diria que o plágio inclusive pode facilitar conexões inusitadas, como por exemplo, o o caso de pessoas que acessam um site absolutamente nada a ver com o do autor-inicial do texto. Em casos como esse uma nova conexão sinóptica foi feita, através de uma fraude, através de um bug cultural. Sabotagem Cultural? Terrorismo Cultural? Vandalismo Cultural? Poderíamos especular até a exaustão. Esse tipo de Bug Cultural alimenta ainda mais a Sopa Criativa do Caos.
Somos fruto de uma cultura recombinante, onde os textos, as frases, as palavras estão se tornando dinâmicas, interagindo num ritual onde você não consegue mais distinguir o leitor do autor. O plágio é necessário. Ele aproveita uma frase de um autor, faz uso de sua expressão, apaga uma falsa idéia e a substitui pela idéia certa. O texto é alterado e passado para frente. As idéias se aperfeiçoam. O progresso implica nisso. Agora com a internet temos o potencial de que aja uma maior participação de todos na produção cultural. Uma democracia cultural! O presente requer que repensemos e reapresentemos a concepção de plágio. Sua função tem sido há muito desvalorizada por uma ideologia que tem pouco lugar na tecnocultura. Deixemos que as noções românticas de originalidade, genialidade e autoria permaneçam, mas como elementos para produção cultural sem nenhum privilégio especial acima de outros elementos igualmente úteis. Está na hora de aberta e ousadamente usarmos a metodologia da recombinação para melhor enfrentarmos a tecnlogia do nosso tempo. Confirmo: sou um plagiador!